8.7.04

O olhar nocturno do falcão


O olhar da luz mais cansada, e também o olhar da noite maior.

O olhar da pedra, do fogo, do metal, do gelo, o olhar que sabe a forma dos gritos.

O olhar que te dá a poesia e a pintura e a dança e a música, que te devolve as coisas sagradas com o olhar nocturno do falcão.

Sim, tinham olhos rasgados por dentro e hoje todos eles estão mortos. Mas assim era o olhar que nos fez. Tu vives. E os teus olhos foram feitos para serem iguais a estes, para forjar em silêncio o ouro mais puro. Mas tu ainda não acreditas no que vês.


Ia e vinha.
E a cada coisa perguntava
que nome tinha.


(Samuel Beckett, Sophia, Ezra Pound, von Karajan, Hermann Hesse, Leni Riefenstahl, W. B. Yeats, Karen Blixen. Versos de Sophia de Mello Breyner.)