Podia falar-te do voo da garça, do poema guardado em cada uma das coisas frágeis. Mas antes, quero de ti que aprendas o mundo com o olhar nocturno do falcão. Ergue-te antes de tudo o mais. Porque são falsas todas as coisas que não ponham uma canção a dançar nos teus lábios. É falso todo aquele que não te convida a dançar.
É verdade que algumas vezes alguém me lê e deixa um comentário. "As tuas palavras cantam", disseram-me uma vez, e frase tão bonita não é fácil esquecer. Sim. Mas... tu, que me leste, que farás da minha canção quando te retirares? É que só me interessa a flecha apontada ao alvo. Só o arco perfeitamente distendido. E se o que eu disse em nada te mudou, melhor seria ter-me calado.
18.9.05
Sobre a garça e o falcão
5 Comments:
manteres-te calado é guardar o dobrar dos sinos no meio do monte.
poderia dizer-te do voo... (espero dizer-te o quanto em mim me mudaram palavras tuas sem que o pressentisses - espero dizer-te para que voes também...)
Também o silêncio fala... muito...
Done!
Todas as palavras, quando bem ditas, ou bem escritas, mudam.
Nem toda a gente tem arte para o fazer. Tu tens.
Não posso falar-te sobre os outros. Mas de mim posso dizer-te que não fico indiferente. Não sei o que mudou, a minha natureza é demasiado instavel para isso. Mas mudou. Não me teria dado ao trabalho de ler ou comentar se as tuas palavras fossem ocas ou comuns, se não causassem sentir, e, consequentemente, mudança.
Por outro lado, eu amo as palavras, e guardo cada frase, cada canção, como conchas da praia numa mala de viagem. Boas ou más, vulgares ou raras.
Mas diz-me: Não apontas a flecha pelo prazer da caçada, não esticas o arco pelo gozo, pelo vicio, pela nessecidade de ouvires o silvo e a pancada? Nunca? Não escreves para ti mesmo?
Eu acho que escrever para mim mesma é o maior dos desafios. Quando o que escrevo me muda, tenho a certeza que mudará outros, mesmo que eles não me digam, ou não o saibam.
Não te cales...
:)
Bj,
Aynn
Caro Goldmundo.
Tomei a liberdade de te linkar.
Um abraço.
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