Quis escrever. Como quase sempre, comecei por buscar uma imagem: sucessivamente considerei, e rejeitei, uma montanha islandesa, as ruínas de uma fábrica, as perturbantes mãos de Eva Green, dois corvos. Encontrei esta evocação de pedra e água, que me recordou um verso breve de Pound. Pensei na beleza dos mundos, na nossa estranha ignorância dos demónios. Inconscientemente acendi um cigarro, e outro depois. Esbocei uma frase que me não agradou e que apaguei devagar. Lembrei-me da carta que não escrevi a uma amiga na Holanda, lembrei-me do meu colégio: tectos de madeira esculpida que são agora a fria ostentação de um Banco. Lembrei-me de que ainda me falta fazer tanta coisa, de que ao contrário da água e da pedra hei-de morrer.
É tarde, e talvez já não escreva hoje.